sexta-feira, 30 de março de 2007

Conto de viagem

Ela o encontrou na curva do caminho. Ele, perdido entre curvas, bailando sozinho na dança do tempo. Ela trazia feridas de outros tempos que ainda doíam, embora escondidas. Ele se ria, sonhava e levava consigo temores e segredos. A alegria de saber-se forte o conduzia. O sorriso o resguardava.

Ela teve medo. Depois, estranha sensação de encontro em mundo distante. Pequena bolha de amor que a protegia, riscava sua alma a fresco. Ela se sentiu bailando no vento do tempo que não era seu.

Quando sua alma, feita corpo, reclamou atenção, ele lhe curou as feridas, desbravou a muralha de seus modos, lhe cuidou como pai. No lugar que já lhe era casa, ela se viu presa na velha rede.
Não quis dar nome ao que já sabia nascido. Experimentou o pesar, a dor e a surpresa de se descobrir cativa em tão insuspeito laço.

Na curva seguinte, despediram-se. Um abraço de alma sela o encontro. Ele chora. Ela, em silêncio, sabe que seu peito pesará por doce tempo.
Coração é desses que, tendo querências, às vezes as aparta para que continuem vivas. Às vezes, as faz nascer apenas para que se prove, generosa, a grandeza da vida.

(30.03.2007)

Nenhum comentário: