terça-feira, 3 de junho de 2008

A solidão é traiçoeira

E pega a gente numa esquina que se dobra de noite.
Numa hora-extra não planejada.
Num jantar solitário no fast-food.
Na não-ligação de alguém que, na ausência de um dia, já faz morrer de saudade.
Na ausência de semanas, que transparece quando toca uma música.
Na piada fixa que se pensa e da qual se tem que rir sozinha.
No conhecido que não puxa papo há meses, e te contata só pra perguntar uma coisa muito objetiva. Antes de sumir de novo.
No recado carinhoso de alguém que fazia parte dos seus dias, e agora faz parte das suas palavras.
Na ausência incompreendida de amigos do peito, para quem a distância não deveria importar.
No cheiro de bolo que não se sente.
No perfume de lugares que ainda não são seus.

(03.06.2008)

Com o tempo...

... estou esquecendo mais os números. E trocando-os na hora de anotá-los. E errando telefones e endereços de casas.
... ando trocando nomes, como minhas tias, e provocando gafes inexplicáveis e únicas.
... desenvolvi o gosto por esmaltes escuros.
... também pela cor vermelha.
... estou repensando o desejo de ter um gato (apesar de continuar gostando deles).
... não tenho sentido tanto frio quanto imaginava que iria.
... me importo menos com a indiferença alheia.
... com os surtos também.
... dependo mais, emocionalmente, de quem eu gosto.
... sou mais agradecida.
... sou mais impaciente.
... perdi a gana de voltar a aprender música.
... desenvolvi o gosto por atividades físicas (leves).

... demoro o triplo para terminar de ler um livro.
... teorizo mais.
... como mais de uma vez só.
... consigo ficar ainda menos tempo sem chocolate.
... desenvolvi o gosto por café puro.
... meu lado Libra impera na perfumaria.
... e o Caprica no vai-ou-racha.
... me sinto pior ao negar uma esmola, se me pedem.
... faço menos trabalho voluntário, por falta de tempo.
... não consigo mais me adequar ao gosto "da galera".
... digo mais o que penso.
... travo mais ao me calar.
... sinto mais tudo aquilo que sinto.


(03.06.2008)