quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Pra não dizer que não falei de flores

Tenho em minha casa dois vasos de violetas. Chegaram em casa bonitos, como fotos de floricultura, cheios de botões e de cores. Durante umas duas estações, me brindaram com alegres tons de rosa e lilás sobre a mesa da sala. Depois disso, nada mais.

Vitaminas, terra nova, água, ar fresco não adiantavam. Com o tempo, fui me acostumando ao verde tímido das folhas e não mais esperei por floradas. Elas, as plantas, pareciam ter se conformado também, e a vida seguiu.

Vieram novos móveis. Vieram e se foram empregos, surpresas, planos, viagens e amigos. Vieram dois inquilinos à minha casa, que de morada solitária se transformou em nova modalidade de república, mais ou menos familiar. Atualizamos, reformulamos, guardamos, crescemos.

Um dia, uma nova hóspede verde obrigou a mudanças domésticas. Crescendo mais do que o esperado, requereu espaço próprio, janela própria e sol próprio. E no embalo, decidi também presentear as velhas moradoras vegetais da casa com um pouco mais de sol, de falas cúmplices e de nova terra.

Vi minha sala ser palco de uma revolução vegetal. Crescendo centímetros e centímetros a olhos vistos, a planta caloura chamou renovadas energias elementais ao ambiente. Suas colegas se juntaram ao coro. De repente, vi as antigas e tímidas folhinhas verdes, já anêmicas, se vestirem de um verde-musgo vigoroso. Todas as manhãs, elas se esticam para capturar aquele sol que não viam há anos. Voltaram ao viço da juventude.

E há alguns dias, a novidade: percebo, por entre as folhinhas, pequenos botões, inéditos há mais de cinco anos. Surpreendida, me esforço para me lembrar de que cor seriam aquelas flores ausentes há tanto tempo. Agora, dias depois, já vejo despontarem o rosa e o lilás de outrora. Em breve, acredito, acompanhados de (essas, sim) inéditas flores da nova inquilina, que provocou a revolução inicial. Estou curiosa para saber de que cor serão essas flores da boa fortuna, que acompanharão as minhas já experientes, e agora ainda mais belas, violetas.

E aprendo, mais uma vez, que não se pode, nunca, virar as costas ao sol. Peço desculpas às minhas antes anêmicas plantinhas, que souberam esperar o lampejo de consciência, já envergonhado, desta senhoria. E percebo que mesmo um começo de ano como este, conturbado para tantos, pode trazer gotas de poesia. Minha sala, banhada de sol, está inundada delas. :)

PS - Outra lição a tirar do episódio: sempre ouça - e agradeça - os conselhos de um especialista (no caso, Mariana, namorada de meu irmão e estudante de biologia, que sugeriu que, ao contrário do senso comum, um pouco de sol faz, sim, muito bem a violetas). :)

(18.01.2007)

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